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Surat Fussilat(1). Ha, Mim.(2)
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(1) Az-Zukhruf: este substantivo, que significa, basicamente, o ornamento ou o ouro, também, encerra o sentido de mobília que ornamenta a casa, ou o de floreios do estilo. A palavra, que aparece no versículo 35, vai denominar a sura. Por ser revelada em Makkah, ela trata dos mesmos temas concernentes à unicidade de Deus à Mensagem divina, à Ressurreição. Após a exaltação inicial do valor do Alcorão, a sura discorre sobre a atitude dos povos que desmentiram os mensageiros de Deus, escarnecendo deles. Segue, exemplificando o poder soberano de Deus com vários sinais, encontrados na natureza. Apesar disso, os idólatras de Makkah, persistindo em suas práticas politeístas, adoram ídolos junto de Deus, e, por abominarem as filhas mulheres, que consideravam inúteis na guerra, na defesa da tribo e no diálogo, atribuem-nas a Deus. A seguir, relata a história de Abraão com seu pai e seu povo; torna a mencionar os idólatras de Makkah e sua estupefação diante de que o Alcorão não haja sido revelado a um dos próceres da comunidade em que vivem. A sura traz, também, a história de Moisés e Faraó, e o nefasto fim deste último. Jesus, filho de Maria, é aludido como um servo agraciado por Deus. E, após advertir os incrédulos do tormento do Derradeiro Dia, alvissara aos crentes as magnificentes recompensas, nesse Dia. Finalmente, ressalva que Deus é O Soberano Absoluto, nos céus e na terra, e que os idólatras devem merecer o indulto do Profeta. (2) Cf. II 1 n3.
Por certo, Nós o fizemos um Alcorão árabe, para razoardes.
E, por certo, estando na Mãe do Livro(1), junto de Nós, ele é altíssimo, sábio.
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(1) Cf. XIII 39 n3.
Então, privar-vos-íamos da Mensagem, abandonando-vos, por que sois um povo entregue a excessos?
E quantos profetas enviamos aos antepassados!
E não lhes chegou profeta algum, sem que dele zombassem.
Então, aniquilamos os mais temíveis que eles; e já precedeu exemplo dos antepassados.(1)
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(1) Em vários lugares do Alcorão, encontramos menção aos povos que desmentiram os mensageiros, e do nefasto fim que tiveram. Ela serve à posteridade de exemplo admoestador.
E, se lhes perguntas: "Quem criou os céus e a terra?", em verdade, dirão: "Criou-os O Todo Poderoso, O Onisciente."
Ele é Quem faz da terra leito e, nela, fez-vos caminhos, para vos guiardes.
E Ele é Quem faz descer do céu água, na justa medida e, com ela revivescemos uma plaga morta. Assim, far-vos-ão sair dos sepulcros.
E Ele é Quem criou todos os casais de seres, e vos fez do barco e dos rebanhos aquilo em que montais,
Para vos instalardes sobre seus dorsos; em seguida, para vos lembrardes da graça de vosso Senhor, quando vos instalardes neles e disserdes: "Glorificado seja Quem nos submeteu tudo isto, enquanto jamais seríamos capazes de fazê-lo."
"E Por certo, seremos tornados a nosso Senhor."
E fizeram-Lhe parte de Seus servos(1). Por certo, o ser humano é um ingrato declarado.
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(1) Os idólatras de Makkah destinavam a Deus os anjos, como se d'Ele foram filhas e não servos que são.
Será que tomou Ele filhas, para Si, dentre o que criou, e escolheu, para vós, os filhos?
E, quando a um deles se lhe alvissara o nascimento de um semelhante ao(1) que ele atribui aO Misericordioso, torna-se-lhe a face enegrecida, enquanto fica angustiado.
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(1) Ao, ou seja, das filhas mulheres.
E como atribuir-Lhe quem cresce entre adornos e não é argüente, na disputa?
E fizeram dos anjos, que são servos dO Misericordioso, seres femininos. Testemunharam eles sua criação? Seu testemunho será inscrito, e serão interrogados.
E dizem: "Se O Misericordioso quisesse, nós não os adoraríamos." Eles não têm ciência alguma disso. Eles nada fazem senão imposturar.
Ou Nós lhes concedêramos um Livro, antes dele(1), e a ele se ativeram? Não.
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(1) Dele: do Alcorão.
Mas dizem: "Por certo, encontramos nossos pais em um credo e, por certo, em suas pegadas, estamos sendo guiados."
E, assim, antes de ti, Muhammad, jamais enviamos a uma cidade admoestador algum, sem que seus opulentos habitantes dissessem: "Por certo, encontramos nossos pais em um credo e, por certo, estamos seguindo suas pegadas."
Ele(1) disse: "E ainda que eu vos chegue com algo que guia melhor que aquilo em que encontrastes vossos pais?" Disseram: "Por certo, somos renegadores do com que sois enviados."
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(1) Ele: o admoestador.
E vingamo-nos deles; então olha como foi o fim dos desmentidores!
E quando Abraão disse a seu pai e a seu povo: "Por certo, estou em rompimento com o que adorais"
"Exceto com Quem me criou; então, por certo, Ele me guiará."
E fez disto(1) uma palavra permanente em sua prole, para retornarem.
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(1) Disto: da unicidade de Deus.
Mas Eu fiz gozar a esses(1) e a seus pais, até que lhes chegou a Verdade(2) e um evidente Mensageiro.
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(1) Esses: os idólatras de Makkah. (2) A Verdade: o Alcorão.
E, quando a Verdade lhes chegou, disseram: "Isto é magia. E somos renegadores dela."
E disseram: "Que este Alcorão houvesse sido descido sobre um homem notável(1), das duas cidades!"
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(1) É alusão ou a Al Walid Ibn Al Mughira, de Makkah, ou a Urwah Ibn Masud Ath Thaqafi, de Al -Taif.
Partilham eles a misericórdia de teu Senhor? Nós é que partilhamos, entre eles, seus meios de subsistência, na vida terrena. E elevamos, em escalões, alguns deles acima de outros, para que uns tomem a outros, por servos. E a misericórdia de teu Senhor é melhor que tudo o que juntam.
E, não fora porque os humanos se tornariam uma só comunidade de renegadores da Fé, haveríamos feito para quem renega O Misericordioso tetos de prata, para suas casas, e degraus de prata em que subissem;(1)
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(1) Se não fosse porque todos os homens, seduzidos pelos bens materiais, se esquecem de Deus e se tornam descrentes, Deus os cumularia com tudo quanto desejam, aqui na terra. É mister que saibam que tudo isso não passa de vaidade e nenhum valor tem diante dos imponderáveis bens da Derradeira Vida.
E, ainda, portas, para suas casas, e leitos sobre os quais se reclinassem.
E ornamento. E tudo isso não é senão gozo da vida terrena. E a Derradeira Vida, junto de teu Senhor, será para os piedosos.
E a quem fica desatento à lembrança dO Misericordioso, destinamo-lhe um demônio, e este lhe será um acompanhante
- E, por certo, eles(1) os(2) afastam do caminho, enquanto supõem estar sendo guiados -
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(2) Eles: OS demônios. (3) Os: OS idólatras.
Até que, quando chegar a Nós, dirá ao demônio: "Quem dera houvesse, entre mim e ti, a distância de dois levantes!" E que execrável acompanhante!(1)
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(1) O idólatra lamenta o erro de haver seguido o demônio e almeja entre eles uma enorme distância, tal como a existente entre dois nasceres de sol. Aliás, alguns exegetas interpretam a expressão "dois levantes" como sendo o levante e o poente, ou seja, a distância entre a alvorada e o crepúsculo.
E isso de nada vos beneficiará, nesse dia - uma vez que fostes injustos - porque sereis partícipes, no castigo.
Então, podes tu fazer ouvir os surdos, ou podes tu guiar os cegos e a quem esteja em evidente descaminho?
E, se te fazemos ir(1), por certo, vingar-nos-emos deles;
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(1) Ou seja, se Muhammad morrer.
Ou se te fazemos ver o que lhes prometemos, vê-lo-ás, por certo, Nós, sobre eles somos Potentíssimo.
Então, atém-te ao que te foi revelado. Por certo, estás na senda reta.
E, por certo, ele(1) é honra para ti e para teu povo. E sereis interrogados.
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(1) Ele: o Alcorão.
E pergunta aos que, de Nossos Mensageiros, enviamos, antes de ti: "Se Nós fizemos, além dO Misericordioso, deuses, para serem adorados?"
E, com efeito, enviamos Moisés, com Nossos sinais, a Faraó e a seus dignitários. Então, disse: "Por certo, sou Mensageiro do Senhor dos mundos."
E quando ele lhes chegou com Nossos sinais, ei-los que se riram deles.
E não os fizemos ver sinal algum, sem que fosse maior que seu precedente. E apanhamo-los com o castigo, para retornarem.
E disseram; "Ó Mágico! Suplica, por nós, a teu Senhor, pelo(1) que Ele te recomendou. Por certo, seremos guiados."
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(1) Pelo: por aquilo, ou seja, pela anulação do castigo, caso os descrentes se voltassem para a fé mosaica.
E, quando removemos deles o castigo(1), ei-los que violaram sua promessa.
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(1) Cf. VII 133.
E Faraó clamou a seu povo. Disse: "Ó meu povo! Não é minha a soberania do Egito e estes rios(1) que correm a meus pés? Então, não o enxergais?"
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(1) Ou seja, os afluentes do Nilo, que corriam abaixo do palácio de Faraó.
"Não sou eu melhor que este, que é mísero e quase não pode expressar-se."(1)
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(1) Cf. XX 27 n3.
"Que sobre ele houvesse lançado bracelete de ouro, ou com ele houvessem chegado os anjos acompanhantes!"(1)
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(1) O não estar Moisés ornado com braceletes de ouro ,insígnias da realeza ,significava que ele, aos olhos de Faraó, não era um soberano, e, portanto, não merecia ser acatado.
E ele atordoou seu povo; então, obedeceram-no. Por certo, eles eram um povo perverso.
E, quando eles Nos indignaram, vingamo-nos deles; então, afogamo-los todos.
E fizemos deles um precedente e exemplo para a posteridade.
E, quando o filho de Maria é citado como exemplo, eis teu povo fazendo dele larido de alegria.(1)
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(1) Quando o versículo 98 da sura XXI foi, assim, revelado: "Por certo, vós e o que adorais, além de Deus, sereis a acendalha da Geena...", os idólatras de Makkah, consternados com o ataque, desferido pelo Alcorão, à idolatria, modificaram, ligeiramente, as palavras do versículo, para confundirem o Profeta Muhammad. Em lugar de lerem, aí, "o que adorais", liam "quem adorais" e , neste caso, como argumentou Abdullah Ibn Az-Zibara, um dos idólatras de Makkah, se o Profeta venerava a Jesus e a Maria, sua mãe, que, por sua vez, eram adorados pelos cristãos, significava que eles também eram ídolos e iriam ser, conforme o versículo, a acendalha da Geena. Dessa forma, continuou Az-Zibara, ele e os demais idólatras não se importariam de estar no Fogo, pois estariam ao lado do Profeta Jesus e de sua mãe e dos anjos, que muitos outros adoravam. A capciosa observação de Az-Zibara, em defesa da idolatria, levou a aglomeração de idólatras a aplaudi-lo estrepitosamente. Para deter o alvoroço, foi revelado o versículo 101 da sura XXI, que esclarece o equívoco, dizendo: "Por certo, aqueles, aos quais foi antecipada, por Nós, a mais bela recompensa, esses serão dela (da Geena) afastados", o que vale dizer que Jesus e Maria e os anjos não estão incluídos entre os condenados ao Fogo.
E dizem: "São melhores nossos deuses ou ele?" Eles não to(1) dão como exemplo senão para contenderem; aliás, são um povo disputante.
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(1) To: "isso a ti", ou seja, não usaram do exemplo de Jesus senão para confundirem o Profeta Muhammad.
Ele não é senão um servo, a quem agraciamos e de quem fizemos um exemplo para os filhos de Israel.
E, se quiséssemos, haveríamos feito de vós anjos para vos sucederem, na terra.
E, por certo, ele(1) será indício da Hora; então, não a contesteis, e segui-me. Isto é uma senda reta.
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(1) Ele: Jesus. Conforme a tradição islâmica, a Hora Final se anunciará, com a descensão de Jesus à terra, para matar o falso Cristo e implantar a justiça no mundo.
E que Satã não vos afaste dela. Por certo, ele vos é inimigo declarado.
E, quando Jesus chegou com as evidências(1), disse: "Com efeito, cheguei-vos com a Sabedoria e para tornar evidente, para vós, algo daquilo de que discrepais. Então, temei a Allah e obedecei-me."
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(1) Ou seja, com o Evangelho.
"Por certo, Allah é meu Senhor e vosso Senhor. Então, adorai-O. Essa é a senda reta."
E os partidos(1) discreparam entre eles. E ai dos injustos por um castigo de doloroso dia!
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(1) Referência às seitas que divergiam quanto à natureza de Jesus, como Deus, ou filho de Deus, ou como um dos integrantes da Santissima Trindade. Vide XIX 37 n1.
Não esperam eles senão que lhes chegue a Hora, inopinadamente, enquanto não percebam?
Nesse dia, os amigos serão inimigos uns dos outros, exceto os piedosos.
"Ó Meus servos! Nada haverá que temer por vós, hoje, nem vos entristecereis,
São os que creram em Nossos sinais e foram muçulmanos."
"Entrai no Paraíso, vós e vossas mulheres: lá, deliciar-vos-eis.
Far-se-á circular, entre eles, baixelas de ouro e copos. E, nele, haverá tudo que as almas apetecem e com que os olhos se deleitam. "E vós, nele, sereis eternos.
E eis o Paraíso, que vos fizeram herdar, pelo que fazíeis.
Nele, tereis frutas abundantes: delas comereis."
Por certo, os criminosos serão eternos, no castigo da Geena,
O qual não se entibiará para eles, e lá, ficarão mudos de desespero.
E não fomos injustos com eles, mas eles mesmos é que foram injustos.
E clamarão: "Ó Malik(1)! Que teu Senhor nos ponha termo à vida!" Dirá ele: "Por certo, aí, sereis permanentes!"
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(1) Malik: o nome do guardião da Geena.
"Com efeito, chegamo-vos com a Verdade, mas a maioria de vós estava odiando a Verdade."
Ou urdiram eles algo(1)? Então, Nós, também, urdimos algo.
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(1) Alusão ao que os Quraich tramaram contra o Profeta, quando o desmentiram e pretenderam matá-lo.
Ou supõem que Nós não ouvimos seus segredos e suas confidências? Sim! E Nossos Mensageiros celestiais, junto deles, escrevem o que fazem.
Dize: "Se O Misericordioso tivesse um filho, eu seria o primeiro dos adoradores dele."
Glorificado seja O Senhor dos céus e da terra, O Senhor do Trono, acima do que eles alegam!
Então, deixa-os confabular e se divertirem, até depararem seu dia, que lhes é prometido,
E é Ele Quem, no céu, é Deus e, na terra, é Deus. E Ele é O Sábio, O Onisciente.
E Bendito seja Aquele de Quem é a soberania dos céus e da terra e do que há entre ambos; e, junto dEle, há a ciência da Hora, e a Ele sereis retornados.
E os que eles invocam, além dEle, não possuem a intercessão, exceto os que testemunham a verdade, enquanto sabem.
E, se lhes perguntas: "Quem os criou?", em verdade, dirão: "Allah!" Então, como se distanciam da verdade?
E, por sua fala: "Ó Senhor meu!", por certo, estes são um povo que não crê.(1)
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(1) Ou seja, Deus jura pelas palavras de Muhammad: "Ó Senhor meu!", quando O invoca, que os idólatras de Makkah são um povo que não crê.
Então, indulta-os e dize: "Salam!" Paz! E eles logo saberão!